terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Procrastinador, eu?!

Meu último post data de 04/04/2012. Incrível, descobri que sou um procrastinador!!! 
"Procrastinar (vou repetir muitas vezes esta palavra como xingamento a mim mesmo!), é o diferimento ou adiamento de uma ação. Para a pessoa que está procrastinando, isto resulta em stress, sensação de culpa, perda de produtividade e vergonha em relação aos outros, por não cumprir com suas responsabilidades e compromissos. Embora a procrastinação seja considerada normal, ela se torna um problema quando impede o funcionamento normal das ações. A procrastinação crônica pode ser um sinal de alguma desordem psicológica ou fisiológica". (Dale Wikipédia).
Em 04/04/2012, iniciei um processo de mudança de hábitos que obviamente deixei para depois. Minha monografia de conclusão de curso .... para depois. Nestes 8 meses, tive muitos planos, teorias e sentimentos que acabei deixando para depois. Agora, chegando o fim do ano e quem sabe até o fim do mundo, vejo o quão absurda se torna a vida de um sujeito que procrastina.
Desta forma, como bom ex-procrastinador, em 2013 (Se o mundo não acabar claro - espero que o fim do mundo seja procrastinador) meu único desejo é não procrastinar. Realizarei muito, produzirei quem sabe mais ainda e com certeza serei mais feliz do que tenho sido até hoje (Os procrastinadores também são felizes).
Obrigado a vida, pois me deu a oportunidade de descobrir após 3 décadas e 1/2 o caminho certo para seguir minha vida! (Espero que os Maias estejam errados!)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Eliminar a "pança" - parte 1

Bom pessoal, faz um mês desde minha entrada na academia buscando eliminar indesejáveis quilinhos adquiridos ao longo dos últimos dez anos. Para começar: na verdade só consegui frequentar três dias na semana. Todos os dias fica quase impossível conciliar com o trabalho, família, estudos e tudo mais.
Todo mundo dizia: caramba, está lascado, vai ficar todo quebrado, não dou uma semana para você sair correndo de lá e voltar ao sedentarismo. E realmente tive vontade de desistir, porém insisti (Já paguei 3 meses!). Mas veja só! Eu gostei! Tirando as dores em todas as partes do corpo, o medo, a preguiça e tudo o mais, eu gostei! Foi legal! A sensação é boa posteriormente aos exercícios.  Em termos de resultado, ainda não identifiquei nada visivelmente, mas me sinto bem. Então acho que estou no caminho certo, ainda mais para alguém que está há tanto tempo parado. Bom este mês foi de reconhecimento e luta para frequentar a academia. No próximo espero já começar a colher os frutos e quem sabe estipular algumas metas audaciosas ... Mando notícias.

terça-feira, 6 de março de 2012

Grupo Espírita Porto da Alegria.

Hoje irei conhecer o Grupo Espírita Porto da Alegria, espero gostar. O nome é bem sugestivo.
Às terças feiras, Evangelho e Fluidoterapia a partir das 19:30 h.

http://www.portodaalegria.blogspot.com/

segunda-feira, 5 de março de 2012

Empreitada: eliminar peso.

Hoje começo na musculação. Um misto de excitação, medo e ansiedade tomam conta. A motivação é clara: perder peso! Ou melhor ELIMINAR alguns quilinhos indesejáveis. Vamos ver no que dá está empreitada, espero tomar gosto pela coisa. Apesar de confessar que não sou lá muito fã desta atividade, mas acho importante me dar esta oportunidade.
Depois conto como foi ... a propósito, a meta é eliminar pelo menos 15 kg em 1 ano! Boa sorte para mim.

quinta-feira, 1 de março de 2012

O menino do cabelo bagunçado: a magrela!

Um belo dia de verão o menino do cabelo bagunçado, nervoso, ansioso, chama ao pai para um passeio de bicicleta. Digamos que ele ainda não seja um expert, no alto de seus cinco anos, mas ele até que anda direitinho com a sua “magrela” com rodinhas é claro!
Equipado com uma “bike” Caloi, capacete, cotoveleiras, joelheiras, protetor bucal, ops! mentira este último foi só um desejo do pai. Pai, filho e “bike” se dirigem ao seu destino, a fantástica pista de bicicross, ops novamente! na verdade um parque perto de casa com algumas pequenas ladeiras. O filho se diverte pedalando, nas pequenas ladeiras o pai vira um verdadeiro propulsor a jato empurrando seu filho, ambos muito alegres e felizes num belo dia de sol. O menino do cabelo bagunçado sobe e desce com sua “magrela”, na subida o pai o apoia. Até que o menino acredita poder subir a ladeira sozinho, para o pai era uma montanha! Assim, o menino ganha distância e fala com o pai enfático: - não preciso de ajuda, vou subir sozinho!!! O pai pensa: - porque não coloquei o protetor bucal!!! um escafandro ao algo do tipo!!!
Corajoso, o menino do cabelo bagunçado pega distância e começa a pedalar sua “bike com rodinhas”, a toda velocidade, são instantes tensos para o pai e imagino muito excitantes para o menino, ele inicia a subida, vai conseguir, o pai distante só podia torcer. Passou um vendedor de picolé e exclamou: vai conseguir, outro passante falou: vai dar merda! Cadê o pai do moleque, tá doido! Quando percebi tinhas uns 30 olhando, e o moleque subindo, subindo com sorriso no rosto, sentindo o vento bater, alegre, mas na curva que finaliza a subida, no último instante as forças do menino esgotaram-se ... silêncio!!!! Só quem se atreveu a falar foi o passante que gritou: não disse que ia dar merda! De repente, o menino do cabelo bagunçado começa a descer de costas com a bicicleta gritando: ô ô ô ô ô ô, ah ah ah ah boom!!!!  Foi hilário, todos riam da situação, gargalhada geral e o pai não sabia se ria ou se chorava, mas o menino desceu toda a ladeira de costas gritando o que mais parecia o refrão de uma música baiana. No fim da ladeira ele cai, morrendo de dar risada e pedindo para repetir a dose!!!! Coitado desse pai.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Eu, racional? Quero ser um burro!

A modernidade nos legou "A Razão" como única maneira (melhor maneira) de sairmos de uma imaturidade espiritual, ou melhor de uma sombra intelectual. Esta sombra na realidade seria a crença, muitas vezes, cega na religião e em Deus. A Razão, tendo como sua mola propulsora a ciência, levou ao homem ao "domínio da natureza", como idealizou Bacon. A ciência desvendou mistérios, encurtou distâncias, salvou vidas e modificou hábitos. Muita coisa positiva surgiu desta era racional. Mas como homens, sempre nos faltará algo. Esta mesma época nos ofereceu guerras brutais, experimentos terríveis, egoísmo sem precedentes, esgotamento da natureza, dentre outros. Ante todo o desenvolvimento proporcionado pela ciência, sentimos que falta algo. Nossos corações clamam por uma coisa que não temos a menor ideia do que se trata. Não temos a menor ideia de como seria o mundo um pouco mais "irracional", mais intuitivo, sensível mesmo. Em 2012, estou decidido a pensar menos e fazer mais. Em racionalizar menos e me permitir viver experiências novas, irrefletidas mesmo. Jesus (podemos falar de Gandhi, Madre Tereza ou Buda), estúpido ou mesmo inexistente para grande parte da ciência, nos deixou uma mensagem de amor e esperança, onde o que vale são o aprendizado via experiência humana, é tornar nossa vida abundante de amor mesmo nos equívocos e nas dificuldades, é mantermos-nos alegres e úteis! Em 2012, espero ser um burro de verdade, trabalhador, persistente e sensível.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Poema de sete faces


Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.


As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.


O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.


O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.


Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.


Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.


Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


Drummond: 100 anos. Carlos Machado, 2002 Carlos Drummond de Andrade: In Alguma Poesia; Edições Pindorama. Belo Horizonte, 1930. © Graña Drummond (http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond01.htm)

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Fim de Ano, há fim de ano?

Chegamos ao fim de 2010 e, como sempre, surge aquela expectativa para o próximo ano. O que fizemos de bom? Mau? O que deu certo ou errado? No que pioramos e no que podemos melhorar? Blá blá blá ... O homem é um animal inteligente. Verificou padrões na natureza que se repetem e deu nomes a eles. Um destes ele chamou de tempo: verificou os movimentos de rotação e translação da Terra, viu diferenças climáticas que se repetiam com alguma regularidade, viu o vai e vem do sol e da lua e assim chamou de tempo. Porém, nosso tempo interno parece soar de maneira diferente. Temos ímpetos de realizações que nos chamam independente da "data". Decisões precisam ser tomadas imediatamente sem prévio alarme. Rupturas e mudanças ocorrem muitas vezes de maneira imperceptível e desta forma nosso tempo interno flui de maneira linear e inequívoca. Nosso tempo é o agora, o instante. Não há outro tempo possível. A época é boa para termos esperança, mas as ações precisam ser tomadas agora, neste momento, pois outro não há.  Mas para não perder a força do hábito, FELIZ 2011.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O PROBLEMA MENTE-CORPO EM DESCARTES

Ainda em fase inicial, venho pesquisando sobre o dualismo em Descartes, especialmente em sua obra principal, as Meditações. Aqui o filósofo expõe sua filosofia desenvolvendo uma série de argumentos de interesse filosófico com repercussão em toda tradição. Dentre estes temas, busco desenvolver o dualismo, ou mais precisamente seu dualismo de substância. De maneira genérica o dualismo de substância (dualismo cartesiano) consiste na visão de que o homem é composto por duas substâncias distintas: uma imaterial, simples, indivisível, inextensa, racional chamada alma ou espírito ou mente (res cogitans) e outra material, composta, divisível, extensa chamada corpo (res extensa). Ambas as substâncias são diferentes entre si, possuem atributos diferentes. Ou seja, o homem seria um composto de corpo e alma, sendo sua essência a alma racional e indivisível: “(...) nada sou, pois, falando precisamente, senão uma coisa que pensa, isto é, um espírito, um entendimento ou uma razão” (Descartes, Meditações) .

Descartes com a distinção mente-corpo elabora a possibilidade ontológica da imortalidade da alma, pois sendo sua essência indivisível, racional e imaterial esta poderia sobreviver a extinção de seu veículo físico. Vale ressaltar que Descartes não entra no mérito de comprovar tal possibilidade empiricamente, mas deixa provavelmente a cargo da ciência verificar tal possibilidade. Para Descartes a afirmação: “eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou que a concebo em meu espírito” (Descartes, Meditações); prova de forma categórica a possibilidade de se pensar uma mente sem um corpo, logo sua imortalidade. Tal argumento também vale para o corpo, destituído de razão, pois não seria possível concebê-lo sem uma alma que seria sua essência. O corpo seria meramente uma máquina destituída de inteligência (alma/mente).

Aqui parece que há uma subjugação do corpo a mente, o corpo por ser composto, seria algo de inferior a essência alma, a segunda meditação nos encaminha para esta possibilidade, parecendo ser o corpo somente algo acessório a alma:

Mas o que sou eu, portanto? Uma coisa que pensa. Que é uma coisa que pensa? É uma coisa que duvida, que concebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que imagina também e que sente. Certamente não é pouco se todas essas coisas pertencem à minha natureza.

Assim para provar a possibilidade da imortalidade da alma, basta para Descartes demonstrar a impossibilidade de se pensar um corpo sem uma alma, e da possibilidade de se pensar alma sem qualquer relação com o corpo. Para o filósofo, isto demonstraria de maneira satisfatória tal possibilidade.

"(...) sei que todas as coisas que concebo clara e distintamente podem ser produzidas por Deus tais como as concebo, basta que possa conceber clara e distintamente uma coisa sem outra para estar certo de que uma é distinta ou diferente da outra, já que podem ser posta separadamente, ao menos pela onipotência de Deus; e não importa por que potência se faça essa separação, para que seja obrigado a julgá-las diferentes". (Descartes, Meditações)

Mas o que se vê é um filósofo disposto a rever suas posições, já na sexta meditação, Descartes nos adverte da importância do corpo no composto homem e indica que corpo e alma formam um conjunto amalgamado de tal forma que ambos seriam necessários para a formação do conjunto:

"(...) minha essência consiste somente em que sou uma coisa que pensa ou uma substância da qual toda essência ou natureza consiste apenas em pensar (...). Embora eu tenha um corpo ao qual estou muito estreitamente conjugado, todavia, já que, de um lado, tenho uma ideia clara e distinta de mim mesmo, na medida em que sou apenas uma coisa pensante e inextensa, e que, de outro, tenho uma ideia distinta do meu corpo, na medida em que é apenas uma coisa extensa e que não pensa, é certo que este eu, isto é, minha alma, pela qual eu sou o que sou, é inteira e verdadeiramente distinta do meu corpo e que ela pode ser ou existir sem ele. (...) não somente estou alojado em meu corpo, como um piloto em seu navio, mas que, além disso, lhe estou conjugado muito estreitamente e de tal modo confundido e misturado, que componho com ele um único todo". (Descartes, Meditações)

O que seria este todo? Como algo imaterial, essencial, interage com um corpo extenso e divisível? Aqui o principal problema do dualismo em Descartes, a questão da interação causal. Como esta mente interage com o corpo se ambos são de naturezas distintas? Como de fato ocorre esta união, entre mente e corpo ao ponto de se confundirem formando um todo, numa simbiose única?

Descartes parece em algum momento tentar conciliar os dogmas da fé (imortalidade da alma, existência de Deus) com a razão científico-filosófica desenvolvida em sua filosofia. Ao mesmo tempo, suscita uma maneira de pensar onde dogmas não devem ser aceitos sem uma argumentação clara e contundente, onde o convencimento deve se dar por via argumentativa e não baseados em pressupostos da revelação. Aqui, Descartes ao mesmo tempo suscitaria um ateísmo, onde posições dogmáticas antes inquestionáveis passariam a ser objeto de investigação científica e seriam passíveis de refutação.

Vejo Descartes como um filósofo estreitamente aberto ao diálogo, onde convida o leitor a pensar e a desafiá-lo a rever suas posições. Indica que com o avanço científico, tais posições poderiam ser reformuladas. Mas com relação ao dualismo mente/corpo parece que mesmo mais de três séculos depois, Descartes mantém sua importância, mesmo que por correntes antagônicas ao seu pensamento. O pai da filosofia moderna deixou mais dúvidas do que certezas, pois não resolve a questão da relação causal, somente indica que a glândula pineal poderia ser este elo entre a mente e o corpo. Mas isto é pouco e cabe a ciência buscar as proposições para que a filosofia desenvolva novas teorias a respeito de tal relação.

Num outro momento da pesquisa, espero desenvolver o problema do dualismo em Descartes fazendo um contraponto com a crítica de Gilbert Ryle (mito do fantasma dentro da máquina) a tal teoria. A ideia de que há mais de uma forma para descrever as coisas parece ajudar a solucionar o problema cartesiano da relação mente-corpo. Assim pretendo ler o The Concept of Mind (1949) de Ryle para desenvolver melhor a pesquisa.


Bibliografia Primária

CHURCHLAND, Paul M. Matéria e Consciência: uma introdução contemporânea à filosofia da mente; tradução de Maria Clara Cescato. – UNESP, 2004. p. 25-48.


DESCARTES, René. Meditações: introdução de Gilles-Gaston Granger; prefácio e notas de Gérard Lebrun; tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. – 2. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (Os pensadores)

DESCARTES, René. Princípios de Filosofia; tradução de Tourrieri Guimarães. – São Paulo: Hemus, 2007. p. 53-57.


sexta-feira, 23 de julho de 2010

Physis(1) como ápice da noção de natureza

Desde os primórdios da civilização, o homem vive uma necessidade interior de saber o seu papel no contexto do planeta Terra e de conhecer a origem das coisas e seres que o cerca. A partir do século VI a.C. com o surgimento da Filosofia na Grécia Antiga(2), a busca por respostas começou a ser sistematizada, constituindo-se na base do pensar e viver da civilização ocidental. Passou-se a construir uma explicação racional e sistemática das características do universo (cosmologia) em substituição à explicação sobre a origem do universo baseada em mitos (cosmogonia). O objetivo principal era buscar o princípio absoluto (primeiro e último) de tudo o que existe, perene e permanentemente.
Os filósofos originários, também conhecidos vulgarmente como pré-socráticos, particularmente, Heráclito(3) e Parmênides(4), discutiram a questão da Physis, que tem como uma de suas muitas traduções incompletas a palavra natureza. Uma característica dos filósofos originários é a discussão sobre a Physis confrontando o “ser e o não ser”, ou seja, os contrários. Os pensadores do período inaugural perscrutam a gênese do cosmos, a forma da Terra, o movimento dos astros, os ciclos meteorológicos, a origem da vida, o alcance do pensamento. Não aceitam as respostas prontas, tradicionais, e, sim, olhando em torno - com um olhar penetrante, capaz de atravessar todas as distâncias - proferem suas conjecturas de longo alcance. Contra as superstições e crenças estabelecidas, contra um antigo saber já consagrado, preferiram o enfrentamento direto com o mistério envolvente, tentando - numa luta de luz e sobra - decifrar os enigmas do nascimento e da morte, dos céus e da Terra. Aos pensadores deste período inaugural o Ser se revelou como Physis, palavra grega cuja força se perdeu nas traduções. Os romanos traduziram-na por natura. Mas a palavra Natureza, proveniente do Latim, só se aproxima do sentido de Physis se não mantivermos a oposição usual entre natural e artificial, entre natural e cultural, pois os gregos viam a Physis como o domínio de todos os domínios. Fonte e origem (Arché(5)), é dela que nascem, crescem e vivem todas as coisas, num emergir constante. Ela é o vigor originário do qual surgem os homens e os deuses, as plantas e os animais, os templos, os navios e as artes. Eterna e sempre jovem, divina, a Physis é o poder mais alto.

Se a Physis é o domínio de todos os domínios, o Logos(6) é também da Physis. Sendo ela o perene emergir, como um clarão que nunca se apaga, o Logos deve estar no centro mesmo deste brilhar, e o Logos humano deve auscultar, receptivo, a sua voz e fazê-la florescer em palavras.

Se a Natureza - no sentido divino e abrangente do momento inaugural - é para os primeiros gregos o Ser dos entes que vêm à existência, se é o permanente emergir, é preciso que os humanos, de olhos acesos e de alma seca e brilhante (pois a alma de brilho seco é a mais sábia... [118]) saibam cantar em obras o clarão da verdade, em templos e estátuas de mármore, e na palavra dos pensadores. Os entes só têm o sentido que apresentam (esse mar, esse sol, nossa polis, os deuses e os heróis) porque um mundo foi instaurado e cada coisa brilhou em seu lugar.

Já ao tempo de Platão(7), a filosofia começava a dividir-se em vários campos: Physis, Logos, ethos. É a Platão que se deve a divisão entre os mundos sensível e inteligível, sendo afirmada a preeminência do Mundo das Idéias. Aristóteles, por sua vez, dividiu os entes em dois tipos: entes físicos (a terra, os astros, os vegetais, os animais e, em certo sentido, o homem) e entes técnicos (produzidos pela arte, pela perícia humana). Quando, pois, Aristóteles(8) chama os primeiros pensadores de físicos ou fisiólogos, já obscurece suas posições, já os enquadra em parâmetros que impedem sua compreensão autêntica. A designação de fisiólogos no vocabulário aristotélico, em que Physis tem menor abrangência, reduz indevidamente o âmbito do questionamento originário.

A partir de então, há um predomínio secular da racionalidade platônico-aristotélica, consagrada pelas duas grandes correntes do pensamento cristão: a de Agostinho e a de Tomas de Aquino, eclipsando a visão originária de mundo, pois a tese central de Heráclito, como exemplo de um pensador originário, não é o mobilismo levando a um completo ceticismo, mas sim, como um Logos gerindo e captando, vendo e dizendo os modos e os ciclos das transformações. Assim, caíram no esquecimento o sentido de fundamentais palavras do período inaugural: Physis, Logos, aletheia(9) … Perdeu-se a postura mesma dos questionamentos dos pensadores originários, e os caminhos por eles abertos, se fecharam, ou melhor, se velaram.

Pode se dizer que com Platão/Aristóteles a filosofia enquanto probabilidade do pensar da Physis se extingue reduzindo a força da multiplicidade presente em ambas as definições. Ao separar a grandiosidade da Physis, a tradição filosófica perde o que há de melhor na filosofia que é a visão do todo única do período originário do pensamento ocidental. Tal separatividade funda a era da lógica em detrimento do Logos, para Heráclito, segundo Carneiro Leão:

“(...) a realidade não é lógica, é Logos. É tanto cósmica como caótica, mas não é lógica. Que diferença se dá entre Logos e lógica? A maneira mais direta e simples de se responder é compreender numa experiência que a lógica é uma doutrina sobre o pensamento, é uma teoria do que é a verdade, é uma disciplina das relações, enquanto o Logos é o próprio pensamento, é a própria verdade, é o próprio relacionamento.”(10)

Fica clara a diferença entre o pensamento originário grego, dentro de seu contexto histórico-cultural com a sociedade contemporânea. Isto nos faz perguntar sobre os rumos dados pela humanidade a questão da natureza e o contexto em que a humanidade se encontra. Os gregos nos ensinam a unir e reunir, a pensar a verdade e o ser. Já a contemporaneidade com seu consumismo desenfreado e a falsa noção de utilitarismo tem esgotado os meios puramente naturais. Pensar em ser e reunião na sociedade contemporânea, segundo Carneiro Leão:
“(...) carece de funcionalidade da sociedade descartável de consumo. Pois o ser e a verdade não interessam à funcionalidade. O que interessa não são as coisas e as pessoas em constante transformação. São as funções. O indispensável é que tudo funcione.” (11)
Deste modo a sociedade ocidental, bem como a filosofia que acompanha sua história, mergulhou no tecnicismo lógico e na estreiteza do pensamento meramente racional em detrimento do pensamento originário dos gregos antigos. A razão só aceita a si mesmo, é excludente ao contrário do pensamento originário que tudo abarca, reúne, une, é a perfeita manifestação do Logos na Physis.

Assim vislumbramos um futuro sombrio para o conjunto homem/natureza, lembrando que esta dicotomia pertence à modernidade (Dicotomia inexistente para os gregos antigos), onde a exploração desenfreada dos recursos naturais com mero intuito consumista, com pouca ou nenhuma preocupação com a ordinária harmonia do cosmos, bem como uma clara apologia do ter, leva o homem cada vez mais ao automatismo individualista, onde cada sujeito dentro da sociedade não é mais que mero expectador do fim do mundo, sempre ansioso por nada. Aprendamos com os gregos a viver em harmonia com o cosmos, trabalhando e pensando em conformidade com ele. Não sejamos senhores irresponsáveis do mundo, mas sim co-autores desta grande obra do Logos que é o universo Physis.

Referências
(1) Physis (φύσις). Tem sido traduzida por natureza, mas seu significado é mais amplo. Refere-se também à realidade, não aquela pronta e acabada, mas a que se encontra em movimento e transformação, a que nasce e se desenvolve, o fundo eterno, perene, imortal e imperecível de onde tudo brota e para onde tudo retorna. Nesse sentido, a palavra significa gênese, origem, manifestação.

(2) Tales nasceu em Mileto, antiga colônia grega, na Ásia Menor, atual Turquia, por volta de 624 ou 625 a.C. e faleceu aproximadamente em 556 ou 558 a.C. . É considerado o primeiro filósofo.

(3) Heráclito, nasceu em Éfeso (Aprox. 540 a.C. - 470 a.C.) foi um filósofo pré-socrático que recebeu o cognome de "pai da dialética". e a alcunha de "Obscuro", pois desprezava a plebe, recusou-se a participar da política (que era essencial aos gregos), e tinha também desprezo pelos poetas, filósofos e pela religião.

(4) Parmênides, nasceu em Eléia (cerca de 530 a.C. - 460 a.C.). Foi o fundador da escola eleática.

(5) Arché (ἀρχή). princípio que deveria estar presente em todos os momentos da existência de todas as coisas; no início, no desenvolvimento e no fim de tudo. Princípio pelo qual tudo vem a ser. É a origem, mas não como algo que ficou no passado e sim como aquilo que, aqui e agora, dá origem a tudo, perene e permanentemente.

(6) Logos (λόγος). no grego, significava inicialmente a palavra escrita ou falada -- o Verbo. Mas a partir de filósofos gregos como Heráclito passou a ter um significado mais amplo. Já com Platão, Logos passa a ser um conceito filosófico traduzido como razão, tanto como a capacidade de racionalização individual ou como um princípio cósmico da ordem e da Beleza.

(7) Platão nasceu em Atenas, provavelmente em 427 a.C. e morreu em 347 a.C.

(8) Aristóteles nasceu em Estagira, na Calcídica (384 a.C. - 322 a.C.). Filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande, é considerado um dos maiores pensadores de todos os tempos e criador do pensamento lógico.

(9) Aletheia (ἀλήθεια). Significa des-encobrimento, segundo Heidegger. Uma forma simples, mas fundamental, de se expressar uma palavra complexa como esta palavra grega.

(10) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Heráclito e a Aprendizagem do Pensamento. Revista de Filosofia Antiga - Kleos. Rio de Janeiro - IFCS - UFRJ: v.1, n.1, p.119, 1997.

(11) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Heráclito e a Aprendizagem do Pensamento. Revista de Filosofia Antiga - Kleos. Rio de Janeiro - IFCS - UFRJ: v.1, n.1, p.126, 1997.

Bibliografia

HEIDEGGER, Martin. Alétheia (Heráclito, fragmento 16). In: Ensaios e Conferências. Petrópolis, Vozes. 2000.
LEÃO, Emmanuel Carneiro. Heidegger e a Modernidade: A Correlação de Sujeito e Objeto. In: Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992.
LEÃO, Emmanuel Carneiro. Heráclito e a Aprendizagem do Pensamento. Revista de Filosofia Antiga - Kleos. Rio de Janeiro - IFCS - UFRJ: v.1, n.1, p.113 – 142; 1997.
LEÃO, Emmanuel Carneiro. Uma leitura órfica de uma sentença grega. In: Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992.